Exercício Resolvido de Oscilações
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Determine a equação de movimento e o período de oscilações para um pêndulo físico, no regime de pequenas oscilações. O sistema consiste de um disco fino de massa m e raio a. O disco oscila em torno de um eixo colocado na borda do disco.


Dados do problema:
  • Massa do disco:    m;
  • Raio do disco:    a.
Esquema do problema:

No pêndulo atua a seguintes força (Figura 1-A):
  • P: força peso.
Adotamos um sistema de referência em coordenada cilindricas (Figura 1-B), onde er, eθ e ez são os vetores unitários nas direções r, θ e z.

Figura 1

O vetor r localiza o Centro de Massa do disco que está a uma distância a igual ao raio em relação ao ponto de fixação.

Solução

Aplicando a 2.ª Lei de Newton para o movimento de rotação
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {\mathbf{N}=I\mathbf{\alpha}} \tag{I} \end{gather} \]
  • N é o torque da força que atua no corpo;
  • I é o momento de inércia do corpo;
  • α é a aceleração angular do corpo.
O torque é dado por
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {\mathbf{N}=\mathbf{r}\times{\mathbf{F}}} \tag{II} \end{gather} \]
a única força que atua no corpo é a força peso P e |r| = a é a distância do ponto de fixação até o Centro de Massa (C.M.) do pêndulo.
Escrevendo a aceleração angular como
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {\mathbf{\alpha}=\frac{d^{2}\mathbf{\theta}}{dt^{2}}} \tag{III} \end{gather} \]
substituindo as expressões (II) e (III) na expressão (I)
\[ \begin{gather} \mathbf{r}\times{\mathbf{P}}=I\frac{d^{2}\mathbf{\theta}}{dt^{2}} \tag{IV} \end{gather} \]
onde

\( {\mathbf{P}}_{T}=-P\operatorname{sen}\theta\;{\mathbf{e}}_{\theta} \)
\( {\mathbf{P}}_{N}=P\cos \theta\;{\mathbf{e}}_{r} \)
\( \mathbf{r}=a\;{\mathbf{e}}_{r} \)
\( \mathbf{\theta}=\theta\;{\mathbf{e}}_{z} \)

Observação: Algumas pessoas acham dífícil entender que o vetor deslocamento angular aponte na direção ez perpendicularmente ao plano de rotação. Quando um corpo se desloca de uma posição r para uma posição r' temos um deslocamento s ao longo da trajetória, o deslocamento angular θ está contido no plano, mas o vetor deslocamento angular θ aponta perpendicularmente ao plano, isto preserva o produtor vetorial (Figura 2). O vetor deslocamento angular indica que o corpo está em rotação, o seu módulo indica o deslocamento angular (escalar) e o sentido do vetor indica o sentido de rotação do corpo, se o vetor θ é positivo o produto vetorial indica que o corpo está se deslocando no sentido horário, se for negativo o corpo está se deslocando no sentido anti-horário.

Figura 2

Este é o mesmo argumento usado para a velocidade angular, o vetor velocidade v é tangente à trajetória, mas o vetor velocidade angular ω é perpendicular à trajetória.

\[ \begin{gather} \mathbf{P}={\mathbf{P}}_{T}+{\mathbf{P}}_{N}\\ \mathbf{P}=-P\operatorname{sen}\theta\;{\mathbf{e}}_{\theta}+P\cos \theta\;{\mathbf{e}}_{r} \end{gather} \]
O produto vetorial   \( \mathbf{r}\times {\mathbf{P}} \)  será
\[ \begin{gather} \mathbf{r}\times{\mathbf{P}}= \left| \begin{matrix} {\mathbf{e}}_{r}& {\mathbf{e}}_{\theta} & {\mathbf{e}}_{z}\\ a & 0 & 0\\ P\cos \theta &-P\operatorname{sen}\theta & 0 \end{matrix} \right|=\\[5pt] =[0.0-0.(-P\operatorname{sen}\theta)]{\mathbf{e}}_{r}-[a.0-0.P\cos\theta]{\mathbf{e}}_{\theta}+[-aP\operatorname{sen}\theta-0.P\cos \theta]{\mathbf{e}}_{z}\\[5pt] \mathbf{r}\times{\mathbf{P}}=-aP\operatorname{sen}\theta\;{\mathbf{e}}_{z} \tag{V} \end{gather} \]
a força peso é dada por
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {P=mg} \tag{VI} \end{gather} \]
substituindo o valor de θ e as expressões (V) e (VI) na expressão (IV)
\[ \begin{gather} -amg\operatorname{sen}\theta\;{\mathbf{e}}_{z}=I\frac{d^{2}\theta}{dt^{2}}\;{\mathbf{e}}_{z}\\[5pt] \frac{-{amg}}{I}\operatorname{sen}\theta=\frac{d^{2}\theta}{dt^{2}} \end{gather} \]
a equação só possui componentes na direção ez, e fazendo a seguinte definição   \( \omega ^{2}=\frac{mga}{I} \)   e escrevendo   \( \frac{d^{2}\theta}{dt^{2}}=\ddot{\theta} \)
\[ \begin{gather} \ddot{\theta}=-\omega ^{2}\operatorname{sen}\theta\\ \ddot{\theta}+\omega ^{2}\operatorname{sen}\theta =0 \end{gather} \]
como estamos trabalhando em um regime de pequenas oscilações podemos expandir a função sen θ em uma série de Taylor.

Expansão em série de Taylor de sen θ
\[ \bbox[#99CCFF,10px] {f(x)=\sum _{n=0}^{\infty}{\frac{f^{n}(a)}{n!}(x-a)^{n}}} \]
fazendo a expansão em torno do ponto de equilíbrio com a = 0, para os 6 primeiros termos da série, temos

\( \displaystyle \frac{f^{0}(0)}{0!}\theta ^{0}=\frac{\operatorname{sen}0}{1}.1=0 \)

Observação: \( f^{0} \) NÃO significa a função f elevada a potência zero, significa a derivada de ordem zero da função f, ou seja, a própria função calculada no pondo a.

\( \displaystyle \frac{f^{\text{I}}(0)}{1!}\theta ^{1}=\frac{\cos 0}{1}\theta =\theta \)

\( \displaystyle \frac{f^{\text{II}}(0)}{2!}\theta^{2}=\frac{-\operatorname{sen}0}{2.1}\theta ^{2}=0 \)

\( \displaystyle \frac{f^{\text{III}}(0)}{3!}\theta ^{3}=\frac{-\cos 0}{3.2.1}\theta^{3}=-{\frac{\theta ^{3}}{6}} \)

\[ \displaystyle \frac{f^{\text{III}}(0)}{3!}\theta ^{3}=\frac{-\cos 0}{3.2.1}\theta^{3}=-{\frac{\theta ^{3}}{6}} \]

\( \displaystyle \frac{f^{\text{IV}}(0)}{4!}\theta^{4}=\frac{-(-\operatorname{sen}0)}{4.3.2.1}\theta ^{4}=0 \)

\[ \displaystyle \frac{f^{\text{IV}}(0)}{4!}\theta^{4}=\frac{-(-\operatorname{sen}0)}{4.3.2.1}\theta ^{4}=0 \]

\( \displaystyle \frac{f^{\text{V}}(0)}{5!}\theta ^{5}=\frac{\cos 0}{5.4.3.2.1}\theta^{5}=\frac{\theta ^{5}}{120} \)

\[ \displaystyle \frac{f^{\text{V}}(0)}{5!}\theta ^{5}=\frac{\cos 0}{5.4.3.2.1}\theta^{5}=\frac{\theta ^{5}}{120} \]

A função seno pode ser representada pela seguinte série de potências
\[ \operatorname{sen}\theta =\theta -\frac{\theta ^{3}}{6}+\frac{\theta^{5}}{120}-... \]
Como estamos considerando θ um ângulo pequeno podemos fazer a aproximação
\[ \operatorname{sen}\theta \approx \theta \]
e desprezamos os termos de potências maiores.
Para um ângulo de \( 10°=\frac{\pi}{18}=0,1745 \), temos \( \operatorname{sen}\frac{\pi}{18}=0,1736 \), a aproximação representa um erro de 0,5%.
\[ \ddot{\theta}+\omega ^{2}\theta =0 \]
Solução da equação diferencial    \( \displaystyle \ddot{\theta}+\omega^{2}\theta =0 \)

A solução é do tipo exponencial, calculando suas derivadas
\[ \begin{array}{l} \theta =\operatorname{e}^{\lambda t} \\ \dot{\theta}=\lambda \operatorname{e}^{\lambda t} \\ \ddot{\theta}=\lambda^{2}\operatorname{e}^{\lambda t} \end{array} \]
substituindo na equação
\[ \begin{gather} \lambda ^{2}\operatorname{e}^{\lambda t}+\omega^{2}\operatorname{e}^{\lambda t}=0\\[5pt] \lambda^{2}+\omega^{2}=0\\[5pt] \lambda ^{2}=-\omega^{2}\\[5pt] \lambda =\pm i\sqrt{\omega^{2}}\\[5pt] \lambda =\pm i\omega \end{gather} \]
a solução é da seguinte forma, onde C1 e C2 são constantes
\[ \theta (t)=C_{1}\operatorname{e}^{i\omega t}+C_{2}\operatorname{e}^{-i\omega t} \]
usando a fórmula de Euler   \( \operatorname{e}^{ix}=\cos x+i\operatorname{sen}x \)
\[ \begin{gather} \theta (t)=C_{1}\left(\cos \omega t+i\operatorname{sen}\omega t\right)+C_{2}\left(\cos \omega t-i\operatorname{sen}\omega t\right)\\[5pt] \theta(t)=\left(C_{1}+C_{2}\right)\cos \omega t-i\left(C_{2}-C_{1}\right)\operatorname{sen}\omega t \end{gather} \]
definindo as seguintes constantes
\[ A=C_{1}+C_{2}\quad ,\quad B=i(C_{2}-C_{1}) \]
\[ \theta (t)=A\cos \omega t+B\operatorname{sen}\omega t \]
fazendo as seguintes definições
\[ \begin{array}{l} \cos \phi=\dfrac{A}{\sqrt{A^{2}+B^{2}}}\\[5pt] \operatorname{sen}\phi=\dfrac{B}{\sqrt{A^{2}+B^{2}}}\\[5pt] \theta_{0}=\sqrt{A^{2}+B^{2}} \end{array} \]
substituindo na equação
\[ \begin{gather} \theta (t)=\left(A\cos \omega t-B\operatorname{sen}\omega t\right)\frac{\sqrt{A^{2}+B^{2}}}{\sqrt{A^{2}+B^{2}}}\\[5pt] \theta(t)=\sqrt{A^{2}+B^{2}}\left(\frac{A}{\sqrt{A^{2}+B^{2}}}\cos \omega t-\frac{B}{\sqrt{A^{2}+B^{2}}}\operatorname{sen}\omega t\right)\\[5pt] \theta (t)=\theta_{0}\left(\cos \phi \cos \omega t-\operatorname{sen}\phi \operatorname{sen}\omega t\right) \end{gather} \]

A equação de movimento será
\[ \bbox[#FFCCCC,10px] {\theta (t)=\theta_{0}\cos \left(\omega t+\phi \right)} \]
O período de oscilações é dado por
\[ \bbox[#99CCFF,10px] {T=\frac{2\pi }{\omega}} \]
substituindo a definição de ω0 feita acima
\[ \begin{gather} T=\frac{2\pi }{\sqrt{\dfrac{mga}{I}}}\\[5pt] {T=2\pi \sqrt{\frac{I}{mga}}} \tag{VII} \end{gather} \]
Calculando o momento de inércia de um disco de massa m com densidade constante σ, o momento de inércia em relação a um eixo passando pelo Centro de Massa é dado por
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {I_{CM}=\int r^{2}\;dm} \tag{VIII} \end{gather} \]
Usando a expressão da densidade superficial de massa σ obtemos o elemento de massa dm
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {\sigma =\frac{dm}{dA}} \tag{IX} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} dm=\sigma \;dA \tag{IX} \end{gather} \]
onde dA é um elemento de área de ângulo dθ do disco (Figura 3)
\[ \begin{gather} dA=r\;dr\;d\theta \tag{X} \end{gather} \]
substituindo a expressão (X) na expressão (IX)
\[ \begin{gather} dm=\sigma r\;dr\;d\theta \tag{XI} \end{gather} \]
substituindo a expressão (XI) na expressão (VIII), e como a integração é feita sobre a superfície do disco, depende de duas variáveis r e θ, temos uma integral dupla
\[ I_{CM}=\iint r^{2}\sigma r\;dr\;d\theta \]

Figura 3

a densidade do disco é constante ela pode sair da integral
\[ I_{CM}=\sigma \iint r^{3}\;dr\;d\theta \]
Os limites de integração serão de 0 até a em dr, ao longo do raio do disco, e de 0 até 2π em dθ, uma volta completa no disco
\[ I_{CM}=\sigma \int_{0}^{a}r^{3}\;dr\int_{0}^{2\pi}\;d\theta \]
Integral de    \( \displaystyle \int_{0}^{{a}}r^{3}dr \)
\[ \int_{0}^{{a}}r^{3}dr=\left.\frac{r^{4}}{4}\;\right|_{\;0}^{\;a}=\frac{a^{4}}{4}-\frac{0^{4}}{4}=\frac{a^{4}}{4} \]

Integral de    \( \displaystyle \int_{0}^{{2\pi}}d\theta \)
\[ \int_{0}^{{2\pi}}d\theta =\left.\theta \;\right|_{\;0}^{\;2\pi}=2\pi-0=2\pi \]

\[ \begin{gather} I_{CM}=\sigma \frac{a^{4}}{4}2\pi\\ I_{CM}=\sigma a^{2}\pi \frac{a^{2}}{2} \end{gather} \]
o fator σa2π é a massa m total do disco (densidade superficial multiplicada pela área do disco)
\[ \begin{gather} I_{CM}=\frac{1}{2}ma^{2} \tag{XII} \end{gather} \]
Este é o momento de inércia do disco em relação ao eixo passando pelo Centro de Massa. O disco do problema está oscilando em torno de um eixo na borda do disco a uma distância igual ao raio a do disco (Figura 4). Pelo Teorema dos Eixos Paralelos
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {I_{p}=I_{CM}+md^{2}} \tag{XIII} \end{gather} \]
sendo d = a e substituindo a expressão (XII) na expressão (XIII)

Figura 4
\[ \begin{gather} I_{p}=\frac{1}{2}ma^{2}+ma^{2}\\ I_{p}=\frac{ma^{2}+2ma^{2}}{2}\\ I_{p}=\frac{3ma^{2}}{2} \tag{XIV} \end{gather} \]
substituindo a expressão (XIV) na expressão (VII)
\[ \begin{gather} T=2\pi\sqrt{\frac{\dfrac{3ma^{2}}{2}}{mga}}\\[5pt] T=2\pi\sqrt{\frac{3\cancel{m}a^{\cancel{2}}}{2\cancel{m}g\cancel{a}}} \end{gather} \]
\[ \bbox[#FFCCCC,10px] {T=2\pi \sqrt{\frac{3a}{2g}}} \]
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